sexta-feira, setembro 30, 2005

Em relação à popularidade dos condidatos...

"Mário Soares sofreu um enorme rombo na popularidade junto dos portugueses, revela o Barómetro da Marktest para o DN e TSF. Um mês depois de ter apresentado a sua candidatura a Belém, o ex-presidente da República viu a sua popularidade cair nada mais nada menos que 40 pontos percentuais, levando-o de um confortável balanço positivo de 20 pontos entre opiniões favoráveis e desfavoráveis em relação à sua actuação, para um muito desconfortável lugar na cauda da tabela das personalidades. Agora, Soares tem um saldo de 20 pontos negativos, só ultrapassado à esquerda por Manuel Maria Carrilho e João Soares (dois candidatos em autarquias da Grande Lisboa). Para agravar as coisas, Mário Soares vê o seu ex-companheiro e agora adversário de luta Manuel Alegre subir um ponto na avaliação dos inquiridos, conseguindo um balanço favorável de 18 pontos entre opiniões positivas e negativas. E, do outro lado da barricada, o não candidato mais candidato presidencial que existe, Cavaco Silva, baixou um ponto, que nem cócegas faz nos 43 por cento de balanço positivo que mantém entre os que gostam e os que criticam a sua actuação. De qualquer forma, este é um mês aziago para as personalidades deste painel. É que 16 dos 21 viram a popularidade descer. A subir estão, entre outros, Alberto João Jardim e Santana Lopes."

Se estes não são muito populares, e então estes???

Num bom inestimento não há espaço para desperdícios e saber evitá-los é que constrói a sorte, displicéncia É pena "Aceito candidatar-me a Presidente da República" - foi desta forma que Mário Soares entrou ontem na corrida para Belém, apresentando-se não como candidato do PS, mas como "um candidato nacional, apoiado pelo PS". A seus pés tinha o PS e o Governo em peso, com José Sócrates sentado bem em frente ao palanque de onde Soares justificou a sua candidatura e foi desmontando, um a um, os vários argumentos que, no último mês, começaram a ser esgrimidos contra a sua terceira propositura presidencial.

Num discurso com uma forte dose de optimismo, em que ilibou o Governo de responsabilidades exclusivas na situação do País (lembrou que a crise económica é mundial) e apelou ao empenhamento de todos para responder aos "males da Pátria", Soares apresentou um argumentário de campanha. Respondeu aos seus críticos e, ao mesmo tempo, aproveitou para fazer marcação todo o terreno ao seu provável adversário Cavaco Silva. Relativizando a mais-valia da formação em economia, mas também insurgindo-se contra tentações presidencialistas.

"Mais que isto é Jesus Cristo." Reconhecendo que vivemos "um momento de crise, de desorientação e de indiferença", o ex-presidente da República sublinhou que "o abrandamento económico e os défices não são fatalidades insuperáveis". "Tenho essa experiência", acrescentou, numa alusão às circunstâncias económicas em que foi primeiro-ministro.

Mas relativizou esta questão "A economia é extremamente importante, ninguém o ignora. (...) Mas a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia. O que faz andar o mun-do são as ideias e a vontade das pessoas", sublinhou, citando, depois, Fernando Pessoa: "Mais do que isto/é Jesus Cristo/que não sabia nada de finanças/nem consta que tivesse biblioteca." Foi uma das ocasiões em que arrancou gargalhadas à sala, acompanhadas de muitos aplausos. Soares riu-se também, apoiado no palanque, de perna cruzada.

A marcação a Cavaco não se ficou por aqui. O antigo presidente disse estar "em boas condições para dialogar, sem crispação, com todos os sectores da sociedade" e recordou a conduta que, em sua opinião, deve ser a do Chefe do Estado - "o que chamei, em tempos, uma magistratura de influência". Era invocado o fantasma do Cavaco interventivo e de uma coabitação difícil com o Governo socialista "O Presidente não pode - nem deve - substituir-se ao Governo no exercício das [suas] funções (...). Tem o dever de respeitar a separação dos poderes, exercendo, com isenção, as funções de árbitro e moderador."

Por outro lado, se Cavaco torce o nariz a voltar à política, Soares garantiu que, pela sua parte, a candidatura não representa "qualquer sacrifício".

Estímulo aos idosos. O discurso de oito páginas com que o fundador do PS se apresentou como candidato presidencial perante uma plateia repleta de personalidades (ver páginas 3 e 4) começou com a contestação, quase ponto por ponto, às críticas que se ouviram no último mês à sua recandidatura.

Soares respondeu aos que levantaram a questão da sua idade avançada - "Com os meus 81 anos serei, seguramente, um estímulo para todos os idosos que recusam morrer antes de chegar a sua hora", afirmou, uma ironia que se revelou hilariante. Antes, acusou o toque dos que lhe recordaram que ainda há pouco tempo tinha dito "Basta de política!". Argumentou, em sua defesa, que não surgiram "políticos preparados, com apoios sólidos, e com vontade de ousar, com êxito, protagonizar o combate pela Presidência".

Aos que lembram que o mundo mudou nos últimos vinte anos e criticam o percurso de Soares desde que deixou Belém, o socialista respondeu com o seu currículo na última década, recheado de livros, conferências, missões para a ONU, um mandato no Parlamento Europeu e ainda a oposição à guerra do Iraque ("Tivemos razão, como hoje está à vista".) "Eu também mudei. Muito. (...) Adquiri novos conhecimentos e tenho hoje bastante mais experiência acumulada. Conheci novas pessoas e vivi, em Portugal e no estrangeiro, situações diferenciadas, que me enriqueceram. É isso - que não é pouco, nem despiciendo - que entendo ser do meu dever pôr de novo ao serviço de Portugal e dos portugueses."

in DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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