quarta-feira, novembro 23, 2005

A derrota dos otários... por Manuel Serrão

"Contrariamente ao que poderia parecer evidente, os otários não são os partidários do aeroporto da Ota. São os seus adversários. Aliás, como sibilinamente já começou a ser anunciado, o futuro aeroporto na Ota há-de chamar-se Aeroporto Internacional de Lisboa, esticando o diâmetro da capital para além dos 50 quilómetros.

Inchada Lisboa assim desta forma artificial, sobrarão razões para que quem lá manda reforce a convicção de que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.

Para os otários que ainda sonhavam com a real possibilidade de meter travão às quatro rodas deste megalómano empreendimento, o show da sua apresentação, ontem realizado na Gare Marítima de Alcântara, deve ter servido para acabar de vez com os sonhos.

Como os paquidermes, depois de posto a andar é impensável pará-lo. A coisa pode ser atrasada, como já foi, mas ninguém a parará. O pontapé de saída não foi deste Governo, mas será este Governo que o tornará irreversível.

Por muito que se diga que os próximos quatro anos serão dedicados integralmente aos estudos, estamos a falar, maioritariamente, dos estudos necessários à sua implementação e não dos estudos que importava conhecer para apurarmos a sua imperiosa necessidade, a sua viabilidade económica, a sua engenharia financeira, os seus diversos impactes e os seus custos previsíveis.

Foi supostamente destes estudos, já transformados em ferramentas de marketing, que ontem o Governo falou ao país. Os estudos que deveriam servir para que se abrisse um longo período de discussão de um assunto que é discutível, apenas estão desenhados para suportar a decisão tomada e ajudá-la a vender.

Vender é uma boa palavra. Depois de comprar a ideia, o Governo vai tentar vendê-la a dois públicos específicos os portugueses que votam e os investidores portugueses, ou não, que possam ter voto na matéria.

É esta a preocupação actual de quem manda. Dizer aos portugueses que o novo aeroporto vai custar uma pechincha ao Estado, porque os privados é que pagarão a maior fatia, a ver se nos compram. Simultaneamente, tentar interessar os investidores no negócio para ver se a dimensão da mentira da primeira "venda" pode ir diminuindo alguma coisa.

Ainda há muita gente que pensa que qualquer burro come palha, é preciso é saber dá-la. Se descontarmos alguns lisboetas que vivem do turismo de negócios e que já começaram a reparar que a Portela era bem mais simpática para os seus clientes, é no Porto e no Norte que o novo aeroporto é olhado com mais desconfiança. Saia palha!

O Mário Lino que preparou o show-off de Sócrates na primeira descolagem da obra da Ota, é o mesmo ministro que tentou minar o moral das tropas a Norte, com a estória das derrapagens do metro e da Casa da Música.

Aquilo que o ministro Mário Lino se despachou a fazer, passando um atestado de menoridade intelectual (e até insinuando algum desrespeito pelas leis...) aos membros da administração da Metro, é tão inconsistente e tão mal fundamentado que roça o insulto e cheira a manobra de diversão. Se o insulto pode resvalar na couraça da nossa indiferença, a manobra de diversão está aí para quem a quiser comer.

Só quem for mesmo burro é que come esta palha!"

in JN Online

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